O que causa indignação para você? E o quanto você tolera o que vê e ouve todos os dias à sua volta? Nem todo mundo se mexe para mudar a realidade de casa, da rua ou do bairro em que mora quando algo lhe incomoda, como fez o “Seu José”, morador da Comunidade Vida Nova, em Maracanaú, região metropolitana de Fortaleza. “Eu via uma comunidade carente, que estava desandando. Aí, pensei no que eu poderia fazer para ajudar a mudar a vida daquelas pessoas”, lembra José Neto. Foram dias pensando numa solução para aquela situação. Amante do esporte, José sempre teve a vida ligada à atividade física, principalmente o futebol. Certa vez, viu frustrada a tentativa de jogar futebol por causa da violência no bairro. “Eu quis marcar um jogo amistoso na nossa comunidade e o adversário disse que não compareceria, porque era muito perigoso. Isso doeu demais em mim, cheguei até a chorar”, desabafa.
Por conta própria, então, José Neto montou o projeto Vida Nova, que reuniu voluntários para dar aulas de esporte para a comunidade, utilizando a quadra poliesportiva da Escola Irmã Dulce, em Maracanaú. E foi pagando do próprio bolso que ele comprou tudo o que era necessário, como bolas, redes e outros acessórios para a prática do futebol. Com o tempo, a criançada foi conhecendo o projeto e abraçando a ideia. Outro esporte também entrou na mira do seu José e, hoje, o projeto contempla também o jiu-jitsu. “Esporte significa tudo pra mim, todo dia tem esporte na minha vida. No começo achei que ia ser chato, ia ficar só uns dias e pronto. Hoje estou aí, né? (risos). Eu e meus amigos gostamos muito, vamos para os campeonatos, ganhamos medalhas, é muito bom”, confessa o adolescente Ítalo, de 14 anos. Ele participa do projeto Vida Nova e incentiva os mais jovens a participarem também. Ítalo foi exemplo para o irmão dele que, no início, também não acreditava que essa nova rotina de vida pudesse ir adiante. “Eu achava que era só besteira, que não era nada, aí fui começando a gostar e hoje o esporte na minha vida é tudo”, conta o estudante Samuel, de 11 anos.
O esporte seduz, serve como isca para pescar a atenção, o comprometimento e a concentração do aluno. Muitos dos jovens atletas do projeto têm sensível melhora nas notas e no comportamento na escola. “Antes eles eram rebeldes, agressivos e, depois que entraram no esporte, ficaram mais sociáveis. Mudou muita coisa no aspecto da educação, eles interagem mais com as pessoas e viraram filhos maravilhosos”, conta a dona Antônia Cláudia, que é mãe dos irmãos Ítalo e Samuel. Aos pais, como dona Antônia, fica também a sensação de segurança porque eles sabem onde os filhos estão durante o dia todo. E estar na escola significa aprende o tempo todo. “Eu acredito que o esporte é importante para a saúde, não só física como mental também. Me sinto muito orgulhosa em ter filhos atletas, porque eu sei que mais na frente eles vão ser campeões não só no esporte, mas na vida”, comenta. José Neto também fica todo orgulhoso. Além de criador do projeto, e ele se sente muitas vezes como um segundo pai desses jovens. “Não é fácil, porque ninguém acredita nessa comunidade. Queria pedir ajuda para algum empresário, quem tiver escolinha, ajude! A gente aqui tira a força de Deus pra seguir em frente, porque já fui criança e sei que é possível mudar”, exclama.
Enquanto a bola rola e as lutas acontecem ao lado das salas de aula, dentro delas o treino é outro. Treinamento de leitura, de incentivo ao consumo de informação e conhecimento através do jornal impresso. Em parceria com a Escola Irmã Dulce, o Diário do Nordeste alimenta o Projeto Jornal na Sala de Aula há oito anos. É a utilização do Jornal Diário do Nordeste como ferramenta pedagógica dentro da sala de aula que possibilita, especialmente aos novos leitores, a oportunidade de acesso ao meio jornal, como uma das dimensões do estímulo ao prazer de ler, à sua ampla reinterpretação em seus vínculos com a realidade social e a consequente criação de alternativas para expressão de atitudes cidadãs. “O principal objetivo é o projeto como ferramenta pedagógica, onde essas crianças tenham acesso ao letramento. Desde o início da parceria, os índices bons da escola vêm aumentando, o vínculo da comunidade com a escola tem ficado cada vez mais estreito. Esse Projeto Jornal na Sala de Aula tem feito muita diferença”, revela Edirene Mourão, diretora da Escola. Há oito anos essa ideia começou a fazer efeito na comunidade e até hoje os resultados são comemorados. E não só para os alunos, já que pais, mães e parentes também aprendem e se envolvem mais com a escola e com a comunidade. “A escola possui um grupo produtivo de mães, onde as mães dos alunos já fazem o artesanato e ganham dinheiro com isso. E a coordenação do projeto capacita os professores, fazendo com que os trabalhadores voltem cada vez mais motivados”, explica Edirene. Para conhecer mais desse projeto ou do Vida Nova, você pode visitar a Escola Irmã Dulce, em Maracanaú.
fotos: LC Moreira