Há dois anos a rotina de Joice oliveira, 15 anos, mudou. Ela é moradora de um distrito conhecido como Praia do Presídio, no município de Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza, no litoral leste do Ceará. Ainda com 13 anos, Joice, que só conhecia os estudos e o distrito onde morava, descobriu um novo mundo em um esporte que, para ela, era desconhecido: o golfe.

O primeiro contato havia sido através das histórias contadas pelo primo que trabalhava como caddie (pessoa que leva as bolsas com tacos dos jogadores) no primeiro campo de golfe do Ceará: o Ocean Golf Course. O espaço funciona dentro de um empreendimento próximo ao litoral, o Aquiraz Riviera.

Joice, assim como algumas tantas outras meninas atenderam a um chamado do instrutor Max Lima, que pretendia, por meio de um projeto social, reunir moradoras do município para inseri-las no esporte. “A idéia era desmistificar o golfe como elitista e ainda criar uma geração de esportistas para representar o Ceará em competições nacionais”, afirma Max.

E lá foi Joice. Ela e as novas amigas de tacadas em meio ao terreno acidentado do campo de golfe começaram a desbravar o novo mundo. “Até chegar aqui tinham muitas gírias que a gente não entendia. É green, é fairway, square, tee. Ninguém sabia de nada. Então tinha que aprender os termos, depois os tipos de tacos pra jogar, mas a gente enfrentou, né?”.

E enfrentou mesmo. As meninas treinam três vezes por semana, sempre às terças, quintas e sábados. Nos dias da semana o treino é pela tarde, para não atrapalhar os estudos (aliás, manter as notas na escola é uma das regras pra continuar no jogo). E à tarde, quase sempre, não é nada fácil enfrentar o sol forte do litoral cearense. “Mas não tem isso não. Só se chover é que a gente para. Mas senão, é com sol ou sem sol”, explica Joice.

Tamile é outra jovem do time “de salto alto”. Aos 17 anos, dos quais dois participando do projeto, pensa na carreira profissional como psicóloga, mas não se imagina longe do campo. “Gosto muito do esporte, quero continuar treinando para ser uma jogadora profissional”, diz ela.

As duas e mais as colegas do projeto enfrentam um longo percurso a pé, de casa até o campo. Em média, são pouco mais de doze quilômetros que elas andam para ir e voltar do treino. Isso porque o projeto ainda está se organizando para que os moradores de Aquiraz montem uma associação desportiva e assim consigam apoio financeiro para o grupo. “A manutenção das horas do instrutor, tacos, bolas, todo o material é fornecido gratuitamente pelo clube”, diz Max Lima.

Apesar das dificuldades, as dez jovens que hoje fazem parte do projeto continuam treinando e em muitos torneios se saem até melhor do que jogadores já profissionais. 

Fonte da matéria: NE 10 – Site UOL