por Marina Ratis
16 de agosto de 2017
O Instituto Dr. Rocha Lima de Proteção e Assistência à Infância tem uma espécie de magia em sua atmosfera. Não dá para imaginar que ao atravessar o portão que dá acesso a rua, você vai se deparar com uma edificação com arquitetura da década de 30, época em que Fortaleza ainda sofria influência da Belle Époque, com plantações em seu entorno trazendo ainda mais beleza para a paisagem. Além disso, a alegria das crianças e dos educadores fazem desse lugar especial. No dia 19 de maio de 2017, o Instituto Dr. Rocha Lima comemorou 104 anos de trabalho em benefício de crianças em situação de vulnerabilidade social. A primeira sede ficava no Centro até 1934 quando mudou-se para a atual, construída no bairro Ellery. Segundo Magno Prudêncio, vice-presidente do Instituto, a proposta do doutor Rocha Lima era trabalhar na área da saúde junto com as crianças e os pais ou responsáveis para tentar diminuir a mortalidade infantil no estado. “Na época, funcionava também como casa de saúde, tinham leitos hospitalares, banco de amamentação, as crianças tinham atendimento médico, odontológico, também teve uma maternidade e, com o tempo, começou a funcionar como internato de menores. Porque muitas das mães que eram acolhidas pelo instituto não tinham condições de criar seus filhos, então muitos deles acabavam ficando na instituição”, contou. Em 2010, o Ministério Público orientou seus gestores a encerrar a modalidade de internato, pois, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente, a criança precisa do convívio familiar para o seu desenvolvimento. Com isso, o Instituto devolveu as crianças para as suas famílias e cedeu espaço para uma creche da Prefeitura de Fortaleza. Segundo a coordenadora de projetos sociais, Priscilla Rodrigues, no ano de 2015, as educadoras, que já trabalhavam lá quando ainda funcionava como internato, criaram o projeto “Acolhendo e Convivendo”. Elas queriam dar continuidade ao objetivo do Instituto que é de cuidar das crianças. “A gente quer dar possibilidades para essas crianças mudarem a realidade delas “, disse. O projeto “Acolhendo e Convivendo” começou com 15 crianças atendidas em apenas um turno. No ano seguinte, em 2016, já eram 33 divididas em manhã e tarde, onde tinham aulas de teatro e capoeira. As aulas de teatro foram substituídas pelas de música no segundo semestre daquele ano. Em 2017, o turno da tarde ganhou uma nova turma. “Se tivesse mais espaço teria mais”, contou Priscilla cheia de inspiração. Atualmente, 52 estudantes de escolas públicas com idades entre 6 e 11 anos são atendidos pelo projeto, que não cobra nenhuma taxa deles. A educadora também destacou entre as atividades, os trabalhos temáticos. “Nesse primeiro semestre a gente trabalhou com o “Respeito”, que eram várias atividades para que eles pudessem desenvolver o respeito, despertar o respeito pelo outro”. Oficinas, rodas de conversa, filmes são algumas das ferramentas escolhidas para desenvolver os temas com os jovens. O trabalho em torno do tema “Respeito” parece já ter surtido efeito em Lara Lívia, de 10 anos, “Antes quando eu ia pedir as coisas, eu não pedia por favor, nem falava obrigada, aí quando eu entrei ela [educadora] ensinou que eu tinha que falar as palavras mágicas. Agora eu falo”, disse. Para Dialison Davi, de 9 anos, poder compartilhar esses momentos com as outras crianças é sinônimo de felicidade. Ele contou que o aprendizado com as professoras serão levados para sempre em sua vida. “Elas ensinam a ter amizade com os outros, a dividir as coisas.” A educadora social Gabrielle Araújo está no Instituto há um ano.
Para ela, que mora perto da comunidade desde criança e não pôde usufruir de projetos como esse, é uma experiência fantástica. “Todos os dias eu me deparo com problemas que antes eram meus e, para mim, é muito gratificante poder estar ali para dar a mão, para ajudar e saber que talvez eu não veja os frutos do nosso trabalho hoje, mas com certeza sei que vai trazer um resultado pra eles”. O professor de capoeira Erick Gomes também relembra o seu passado com essas crianças.”Eu fui treinar capoeira quando eu era criança e a alegria que eu tinha de treinar capoeira, eu vejo também neles treinando, isso me alegra muito”, contou. Para a professora de música Lenina Silva o projeto ajuda as crianças a ter uma educação mais ampla porque aprende a formar o ser humano por meio de diferentes artes, como é o caso da capoeira e da música, além das atividades desenvolvidas com os educadores sociais. “Todos os avanços que eu vejo fazem eu me sentir bem e fazem com que eu perceba o porquê de eu estar aqui, que o propósito é esse, é eu chegar para fazer isso para eles e para mim e para todo mundo”, ressaltou.
A coordenadora de projetos sociais Priscilla Rodrigues destacou entre os desafios do instituto, aumentar a participação da família. A maioria não comparece aos encontros organizados pela instituição, onde os mesmos temas trabalhados com os alunos são passados para os pais. Iara Barbosa é mãe da Lara e do Lucas. Para ela, os encontros são importantes porque estimulam a proximidade entre pais e filhos, além de poderem acompanhar o que eles vivenciam no instituto. “Embora seja uma escola, mas é um ar familiar, que eles tratam tão bem as crianças, eles têm muito carinho pelas crianças então eu não fico tão preocupada em deixar meus filhos aqui, não fico”, disse satisfeita com a evolução que percebeu nos próprios filhos. Outro desafio é a falta de apoio do poder público. O Instituto Dr. Rocha Lima vive de renda própria. “Inicialmente o instituto pertencia à família do Dr Rocha Lima, mas agora é a família do José Reis Júnior que está à frente, que foi o primeiro presidente e a família abraçou a causa”, explicou a coordenadora. O atual vice-presidente do instituto, Magno Prudêncio, é bisneto de José Reis Júnior. “O cuidar dessas crianças significa também cuidar da família delas. Então nós tentamos acolher e abraçar todo mundo aqui nesse espaço.
A gente sempre tenta buscar novos projetos, a gente sempre tenta oferecer coisas novas para que tanto as crianças como as famílias se sintam abraçadas pelo Instituto Dr. Rocha Lima.” “Eu acredito muito que com o pouquinho que a gente faz, com a quantidade de criança que a gente consegue atender, a gente vai possibilitar que essas crianças tenham um futuro diferente do que elas teriam sem ter o instituto, sem ter um projeto parecido com esse. Então isso aqui é minha opção de vida”, disse Priscilla emocionada. Além do projeto “Acolhendo e Convivendo”, o Instituto Dr. Rocha Lima tem uma Biblioteca Comunitária e um grupo de mulheres, que encontram-se quinzenalmente, onde participam de oficinas que vão ajudá-las a ter uma atividade rentável. O objetivo é emponderá-las. Ainda estão previstos uma horta comunitária e, para 2018, um projeto voltado para o público adolescente. Para participar, é necessário fazer uma pré-inscrição no próprio instituto. O responsável vai preencher uma ficha para que a medida que forem surgindo as vagas, a instituição entre em contato.Entre em contato com o Instituto Dr. Rocha Lima e saiba como ajudar.
Instituto Dr. Rocha Lima – Fortaleza
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