Em 2006, um jovem italiano foi assassinado em Fortaleza por um rapaz que o tinha roubado. Esse jovem morava no Brasil e o nome dele era Andrea Pescia. Três anos depois os pais do jovem morto transformaram o sentimento que poderia ser apenas de dor e revolta. Eles criaram o Centro Vila Garibaldi, na capital cearense, para acolher e educar crianças e jovens cearenses e sem oportunidades. Bruno Pescia, pai de Andrea, sabia que o filho ajudava crianças carentes de favelas e decidiu fundar uma Associação Italiana com o nome de seu filho: Associazione Andrea Pescia, que se tornou a mantenedora do centro comunitário em Fortaleza.
Algum tempo depois o projeto cresceu e virou Escola Filantrópica Andrea Pescia, ainda em 2009, que começou atendendo 80 crianças oferecendo educação. A frente dela ficou a administradora Auremir Medeiros. E essa é uma história sobre o encontro de pessoas em sintonia com a intenção de ajudar a melhorar a realidade de uma parte do mundo. E que começou muito tempo atrás…
Dezesseis anos antes, em 1993, a Auremir conheceu a irmã italiana Giuliana Galli. Naquele momento, a religiosa estava com um câncer terminal e queria ajudar uma comunidade enquanto estivesse viva. Foi um desses encontros que acontecem na hora certa e no lugar certo, pois Auremir tinha uma amiga que morava perto da comunidade Garibaldi, localizada no bairro da Serrinha, e que distribuía cestas básicas na época do Natal. No final daquele ano, Auremir e a irmã Giuliana resolveram conhecer Garibaldi. “Houve uma interação muito grande entre ela e a comunidade, especialmente entre as mães”, conta a administradora. Ela percebeu, ainda, que tinha muita criança fora da escola, além de não ter um número suficiente de estabelecimentos de educação infantil ou creches.
A irmã Giuliana orientou Auremir a trabalhar com crianças até cinco anos de idade, faixa etária para a educação infantil. “Ela me deu muitas dicas de como fazer uma escola que fosse acolhedora, alegre, uma escola onde as portas fossem abertas desde a direção, os professores, e com a qual a comunidade se identificasse”, conta. Auremir trabalhou em uma escola da comunidade até o ano de 2009, quando conheceu um conterrâneo de Giuliana, exatamente o italiano Bruno Pescia. Segundo Auremir, o que motivou Bruno a criar e executar o projeto da escola foi a ideia de que o rapaz que matou o filho dele era um jovem de 19 anos, na época, que não teve oportunidade e virou assaltante. “Ele conseguiu superar a dor da perda voltando aquele amor para proteger as crianças da cidade que levou o filho dele”, disse, emocionada.
Onze anos depois a escola atende 250 crianças, sendo 150 da educação infantil e 100 do ensino fundamental, que vão para lá ter aulas de música, teatro, literatura, futebol e ballet. “Hoje não tem um número maior por falta de espaço, mas tem lista de espera”, diz Auremir. Entre 2009 e 2020 são quase mil crianças já beneficiadas pelo trabalho desenvolvido na escola.
“A gente procura fazer isso envolvendo principalmente a família”, conta Auremir. De acordo com ela, a escola também abre espaço para os adultos, seja para jogar futebol, tomar café da manhã ou participar de palestras sobre diversos temas, como droga, alcoolismo, desemprego, orientação de como gerar renda em trabalhos manuais, entre outros. Com isso, está conseguindo aproximar a comunidade junto à escola. “Aqui é um ponto de referência da comunidade. Então, toda hora elas estão aqui, as mães, as crianças, os adolescentes, e vêm em busca de um conhecimento maior”, diz.
Amanda Soares já foi aluna da Escola Filantrópica Andrea Pescia e, atualmente, é professora na instituição. Ela conta que as crianças da comunidade são muito carinhosas e é muito importante retribuir esse carinho em dobro. “O modo como a gente os trata influencia no futuro deles”, diz. Pode-se dizer que Amanda é um exemplo desse cuidado. Ela é muito grata a Auremir pelo incentivo, inclusive para fazer sua graduação.
Camila Couto é a professora de ballet da escola. Para ela, as meninas são como filhas. Quando alguma diz que não tem uma sapatilha, tira do próprio pé e empresta para incentivá-las. Um episódio inesquecível para Camila foi em 2016, no 1º Festival Andrea Pescia. “Elas se realizaram por causa de uma saia. Fiz a reunião com os pais, pedi para irem na costureira ajeitar tudo bem direitinho: a saia para elas e o resto da roupa normal, collant, sapatilha, coque. E uma saia de tule fez uma grande diferença para elas. Então, desde o festival eu percebi que o dom cresceu mais, a falta diminuiu bastante, tudo por causa de um festival, de uma saia. Foi muito importante para elas e também muito importante para mim”, conta.
Os principais desafios da Escola Filantrópica Andrea Pescia é a falta de financiamento e de envolvimento governamental em um projeto que pode ter impacto e contribuir na redução da violência urbana. “Os desafios só nos estimulam, só nos jogam para frente, principalmente quando a gente vê essas professoras que já convivem com a gente desde pequenas, que, hoje, já estão terminando faculdade de pedagogia, estão se voltando para um trabalho dentro da própria comunidade. A história de vida dessas crianças é a mesma história de vida delas. Então, elas se identificam com esse trabalho, elas se identificam com a história dessas crianças, e isso nos estimula a buscar sempre, a não desistir”.
Ainda, conforme nos contou a gestora, 90% do financiamento da escola vem do próprio Bruno Pescia, que vive na Italia e nunca desistiu do projeto. O restante é contribuição de outras pessoas que acreditam nessa ideia.
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