Quinze anos de dedicação à capoeira. Quinze anos aperfeiçoando os movimentos da dança, os caprichos da arte e os tons do berimbau. E mais: anos e anos ensinando tudo isso a centenas de crianças e adolescentes de Quixeramobim, no sertão do Estado do Ceará. É dessa cidade, que fica a 210 km da capital Fortaleza, que saiu o professor Leonardo Oliveira, o homem que se dedica à capoeira desde o início dos anos 2000. “Tem muito tempo já que a capoeira faz parte da minha vida. Só que no Brasil é difícil você conseguir apoio para projetos ligados a esse esporte”, lamenta o professor.
Cansado desse cenário, Leonardo resolveu então arriscar. Juntou dinheiro, fez esforços financeiros e comprou uma passagem para a França. Ele estava decidido a participar de um festival internacional de capoeira, o que iria mudar a vida dele e de centenas de jovens de Quixeramobim. “Eu vi muita coisa lá, do esporte em si e do que o envolve. Aprendi e me deu vontade de mudar a realidade na minha cidade. Voltei da França com outra cabeça e decidi criar a Associação Berimbau”, conta Leonardo.
Com essa iniciativa, o professor iniciou uma nova era para a capoeira na cidade. A Associação Berimbau nasceu da ideia e tentativa de Leonardo melhorar os recursos para esse esporte e expandi-lo na região. Em pouco tempo, ele conseguiu mais espaços para dar aulas e mais apoios também. “Passei a dar aulas em dois clubes e três escolas, ficou mais democrático o acesso à capoeira. Passei a focar mais na garotada, que é o nosso futuro, e as autoridades perceberam a importância de apoiar os eventos e as aulas. Assim, conseguimos o apoio da Prefeitura e crescemos”, revela Leonardo, que passou a ser funcionário do município e hoje sustenta a Associação Berimbau.
Cerca de 90 crianças, jovens e adultos participam hoje do projeto capoeira. A maioria deles, meninos e meninas de até dez anos de idade. O objetivo do professor Leonardo, com esse trabalho, é contribuir com o esporte e a sociedade, apostando que a capoeira e a cultura que ela traz são fortes agentes para tirar os jovens da rua e da ociosidade. “A gente tem que levar essa juventude para o lado do bem. As pessoas hoje deixam muito a desejar porque podem se doar mais, fazer mais pela juventude e pela educação”, desabafa. Nesse primeiro ano de projeto, alguns frutos já puderam ser colhidos. Famílias inteiras mergulharam de cabeça na capoeira e hoje comemoram.
Nesse primeiro ano de projeto, alguns frutos já puderam ser colhidos. Famílias inteiras mergulharam de cabeça na capoeira e hoje comemoram, como Izamara Oliveira Nobre, que trabalha como recepcionista e, nas horas vagas, sempre está marcando presença nas aulas de capoeira. “Eu adoro! Infelizmente havia preconceito no começo das atividades, mas ainda bem que, com o tempo, as pessoas vão conhecendo mesmo a capoeira e vão deixando o preconceito de lado. A ideia delas vai mudando”, diz. O que fica, no fim, é o sentimento de quem vai passar a vida toda jogando capoeira e ajudando a contar novas e boas histórias de meninos e meninas que terão a vida mudada ou encaminhada por esse esporte. “Hoje, espero que a atividade só cresça e que mais e mais pessoas conheçam a capoeira e a sua história”, torce Izamara.
E, pensando ainda mais na frente, Leonardo lançou outro projeto: Sonho Casulo das Artes, que vai encaminhar a construção de um prédio sede para a Associação Berimbau. Uma campanha para arrecadar dinheiro e doações de material de construção já foi iniciada. “Os governos mudam e o apoio que temos hoje pode ser que não exista mais amanhã. Por isso, considero importantíssimo que nós tenhamos a nossa própria sede, para receber exposições, eventos, pessoas de todos os lugares e fazermos nossas festas e confraternizações”, explica Leonardo. Devagar e com alegria, o projeto vai crescendo, ganhando corpo e também admiradores. Visite o projeto Capoeira da Associação Berimbau, em Quixeramobim, no sertão do Ceará, e conheça outras histórias.
fotos: Caio Ricard