A receita é simples: uma porção de barro, um pouco de esterco e aí mistura bem. Acrescente água para dar aquela liga. O ponto certo é quando você consegue formar bolinhas ou uma espécie de cumbuquinha. A massa, que parece cimento, é para construir um mundo melhor. E, para terminar o serviço, entram as sementes, que podem ser de vários tipos. Assim, as bombas estão prontas. Bombas do bem – esse é o nome do projeto que pretende ajudar no reflorestamento da região do Cariri.
A coordenadora do Projeto Bombas do Bem, do Crato, explica com mais detalhes essa receita: “A bombinha é um composto de 20% de esterco e 80% de barro. E é isso aí mesmo, a gente faz uma bolinha, joga água e protege, botando pra secar. Depois de seca, procura locais desmatados ou em risco de desmatamento para fazer o lançamento dessas bombinhas. O grande barato é unir a educação ambiental, o lúdico e o esporte”, revela Ana Cristina Diogo. E o esporte aparece aí porque os voluntários do projeto fazem longas caminhadas arremessando as bombas ou usam bicicletas e baladeiras para alcançar mais terreno e maiores distâncias com as bolinhas. “A gente ainda desmistifica o uso da baladeira, que não é para matar passarinho, mas para fazer o bem, usando um brinquedo, um esporte regional. E então, passa a ter um novo significado: o esporte como instrumento de educação ambiental. Esse é o grande barato da experiência e da união das duas coisas”, conta.
O projeto tem a participação de centenas de alunos da rede municipal de ensino em Juazeiro do Norte e região. Pelo menos uma vez por mês, eles se reúnem para replantar ou reflorestar um ponto do Cariri. E não tem tempo ruim para eles que, por vezes, passam horas andando ou pedalando em busca da área mais necessitada. “É uma experiência sem igual. A gente poder colaborar com a natureza de alguma forma e ainda se divertir, porque é legal isso aqui que a gente faz”, diz a adolescente Tayná de Souza, de 14 anos. “O grande desafio dessa experiência é essa sensibilização do jovem. E a gente sabe que a criança está aberta ao novo, inclusive para disseminar conhecimento. Então, a gente tem que quebrar esse paradigma de que ‘criança não sabe’. Criança ensina, e como ensina! A gente vem aprendendo com essas crianças e, em cada local por onde a gente passa, deixando essa semente, a gente percebe essa mudança de comportamento nelas”, fala, cheio de orgulho, a coordenadora do projeto.
Ana Cristina também é consultora do Núcleo de Educação Hidroambiental da SAAEC – Sociedade Anônima de Água e Esgoto do Crato. Ela acredita que o objetivo principal de uma ação ou projeto do bem é ‘formar formadores’, plantar boas ideias e dar sequência a elas. Por isso, o Projeto Bombas do Bem não termina quando são lançadas as sementes dentro das bombinhas. O plano é monitorar todas as áreas onde foram lançadas as bombas do bem para ver o resultado da ação. Esse trabalho também deve envolver os estudantes que participaram da confecção das bombinhas, engenheiros florestais e outras pessoas do projeto. “Nossa intenção é monitorar as primeiras dez mil bombas lançadas para ver e saber se as sementes vingaram, se as mudas estão crescendo e como está esse processo todo”, explica Ana Cristina Diogo. Uma história com começo, meio e fim que promete repintar de verde a Chapada do Araripe e todo o Cariri.
O projeto deixa claro para os estudantes e voluntários que todo o cuidado com o reflorestamento vai se refletir também no cuidado com a água do planeta. Por isso, lançaram uma revista em quadrinhos que trata da origem da água na região, da importância da preservação das nascentes e do uso consciente de água – um tema bem atual e relevante nos dias de hoje. Para conhecer mais o Projeto Bombas do Bem, visite-os no Crato, na região Sul do Estado.
fotos: Tiago Moreira