por Silvia de Freitas
02 de setembro de 2017

Quem conhece o esporte, sabe de cor como é. Rotina de treinos, competições, vitórias e derrotas, quase sempre fora de casa, longe da família e dos amigos. Viagens, dias e mais dias em hotéis, estádios, campos e arenas, por exemplo, fazem parte do dia-a-dia dos atletas. Os esportistas são unânimes em dizer que é uma vida que vale a pena. Após as conquistas ao longo da carreira, ao voltarem de vez para o lugar de onde vieram, muitos decidem fazer alguma coisa pela sua comunidade porque sabem do poder transformador do esporte.

Foi com esse pensamento que o ex-maratonista Cláudio Freitas Carneiro fundou, em 2005, a Escolinha Pique do Atletismo, no bairro Jurema, em Caucaia (CE). Sua intenção sempre foi a de tirar as crianças e os adolescentes das ruas a partir da prática esportiva. Para tanto, fez questão de se preparar para esse novo desafio, fazendo cursos de capacitação na área do atletismo e educação. Isso, aliado ao seu conhecimento como atleta, fez e ainda faz toda a diferença na vida de promissores atletas.

O projeto surgiu como tantas boas ideias que surgem na cabeça e no coração de homens e mulheres que desejam fazer o bem. “Eu estava em São Paulo para participar da Corrida de São Silvestre quando, conversando com alguns amigos, decidi voltar e fazer alguma coisa pela minha comunidade. Foi daí que decidi montar um grupo de crianças para ensinar um pouco do atletismo”, explica Cláudio.

De olho no futuro desses jovens, o ex-atleta jamais se deixou abater pelos desafios que surgiram no início do projeto. Ele começou com poucas crianças, poucos materiais para trabalhar, em um local meio que abandonado no bairro, chamado pelos moradores de “Campo do Remo”. No entanto, em pouco tempo, a Escolinha Pique do Atletismo passou a ganhar visibilidade, o que fez aumentar o número de crianças e adolescentes atendidos. Hoje, a instituição faz parte da Federação Cearense e Confederação Brasileira de Atletismo e tem 120 participantes, com idade entre 6 e 17 anos.

É o caso do Pedro Henrique, que chegou ao projeto após ser convidado por amigos. Desde então, tem treinado e se dedicado ao máximo para ser um bom atleta, um cidadão consciente de seu papel no mundo, além de ter determinação para buscar realizar seus sonhos. O maior deles, no momento, é participar dos jogos de Tóquio, em 2020. Quem também sonha em representar o Brasil no maior evento esportivo do mundo é Francisco Anderson, que, antes de começar a treinar na Escolinha Pique do Atletismo, já mostrava suas habilidades na corrida jogando futebol. “Com menos de um ano, consegui participar de um campeonato brasileiro dos jogos escolares. Isso me motivou muito a continuar a querer correr cada vez mais”, diz.

Outro aspecto que contribui diretamente para o sucesso do projeto é que Cláudio Freitas Carneiro faz questão de envolver os familiares dos alunos atendidos, que reconhecem e valorizam o trabalho desenvolvido na pista de terra batida do projeto. A pequena Yasmin Fernandes não só tem o apoio da mãe, Lindaura da Silva, para participar das aulas, mas faz isso ao lado dos primos. O amor pelo atletismo é tanto que quando teve que se ausentar por conta de uma cirurgia de tireóide, no início do ano, a pequena grande corredora fazia questão de assistir as aulas e prestigiar os amigos. “Eu fiquei com muita saudades daqui. Eu sabia que precisava me recuperar, mas, mesmo assim, tinha vontade de treinar”, conta a aluna, que já voltou a praticar o atletismo e é só alegria.
Como Cláudio faz questão de dizer, trabalho social é, antes de tudo, respeito. É amor, pelo que se faz e pelo próximo. É a prova de que, com afeto e dedicação, o esporte faz toda a diferença na vida das pessoas.